Capoeira de Jesus¹ - Você Conhece? Em caso negativo, um dia irá... Não é de hoje... Mas o fato é: tem ocorrido que muitos capoeiristas (depois de um tempo) citarem erroneamente por algum motivo pontual/pessoal e generalizar que é capoeirista, mas é de Jesus e/ou agora não é mais capoeirista porque passou a aceitar Jesus. Pode acontecer de alguns alunos não seguirem no caminho certo ou parentes e filhos? Pode, porém independe da capoeira isso, mas para alguns equivocados acham que tem haver... Que ao separar da capoeira e aceitar Cristo haverá algum determinado alívio para sua iluminação no céu. Um outro ponto semelhante, que não cabe agora aprofundar é o termo bolinho de Jesus² (acarajé gospel uma 'nova versão' do acarajé original do axé), traduzindo novamente querer os benefícios do universo negro e/ou da cultura indígena [universo da moda/design/gastronomia/ambiental] sem apoiar a preservação, contexto histórico, suor e as lutas dos nossos ancestrais.
[1] - Capoeira de Jesus - Termo que simboliza a negativa em relação as religiões de matrizes africanas. Denotando um ar de superioridade para quem não participa do universo religioso do povo de santo [Axé]. [2] - Bolinho de Jesus - Termo que descaracteriza a versão original do acarajé do povo de Santo do Axé.
Intolerância religiosa é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças ou crenças religiosas de terceiros. Pode-se constituir uma intolerância ideológica ou política, sendo que, ambas têm sido comuns através da história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou outra. Floresce devido à ausência de liberdade de religião e pluralismo religioso. - [Wikipédia]
A crença na oralidade é uma das principais marcas da Tradição. Os mais-velhos fazem o papel de transmissores da cultura, do conhecimento e da sabedoria. Marcados pelo respeito e cercados pela veneração, o velho é o depositário e ao mesmo tempo encarregado de passar a sabedoria adiante. Este traço cultural permanece vivo nos terreiros afro-brasileiros, ainda hoje, apesar de todo um desenvolvimento tecnológico que trouxe o livro, o jornal, a revista, o vídeo, o “cedê”, o disquete e a Internet. O resultado é que os terreiros desenvolveram uma cultura, na qual se acredita que, sem o velho sabido que ensine, não há o que herdar. Um novo tom, no entanto, construiu-se no Brasil: o mais-velho pode não ser biologicamente o mais antigo, mas aquele que acumulou o conhecimento e a sabedoria pelas vias da iniciação. [PÓVOAS, 2007]
É consciente que a todo momento nós (brasileiros) somos bombardeados para não propagar nem salvaguardar temas sobre o mundo afro e indígena, ficando estes como segundo plano 'ou melhor,' sem plano. Sugestionam-nos forçadamente a sermos católicos e/ou evangélicos para o aceitar de Deus no reino dos céus e um argumento como verdade [sem argumento]. É bom lembrar que não existe nada sobre a capoeira na bíblia [qual o capítulo/versículo que Cristo cita sobre a negatividade da capoeira ou a positividade?] Nem tem como por quê... Cristo propagou as informações por via da oralidade aos seus discípulos, estes foram quem contextualizaram e redigia a época (a sua realidade) e de acordo com a sua sapiência. E pelo que se sabe parábolas complexas!
"...esperança do povo de axé, as danças, os ritos, a fé das casas nagô..." - [Beto Pellegrino/Pedreira Lapa]
"...esperança do povo de axé, as danças, os ritos, a fé das casas nagô..." - [Beto Pellegrino/Pedreira Lapa]
“Sabido: os negros, as senzalas, o candomblé e a capoeira não eram e nem viviam separados. Até porque esta era a realidade.” - Maria A. Teixeira [Ru Aisó]
"Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível." - [Pessoa]
O único local que vamos encontrar a capoeira com originalidade viva será entre as religiões de matrizes africanas, o que tem levado tristemente a diante o preconceito de muitos 'capoeiras', cujos não são dessas religiões, sinalizando de que quem é capoeirista: é adepto do candomblé [contextualidade africana] e/ou da umbanda [brasileira]. O que não é verdade! Assombram esses pensamentos, mas eles existem e estão aí. E quem nunca foi associado ser 'macumbeiro (a)' [pejorativamente] por ser capoeirista? Os cânticos, preceitos e instrumentos que são vistos no universo da africanidade e indígena tomaram outro olhar em leigos intencionados e não intencionados pela ignorância; O não pesquisar provoca e produz um leque de inverdades que 'ferem(simbolicamente falando)' os guardiões, mas não a ponto de abandonar tudo e deixar para lá, todavia, é importante que precisamos trabalhar mais sobre esses argumentos.
"Macumba (do quimbundu: ma'kôba) é um instrumento de percussão de origem africana, semelhante ao instrumento reco-reco." - [Wikipédia]
Eu aceito tudo de bom que a capoeira [cultura afro e indígena] me dá, mas não defendo a sua origem? É o que fica traduzido quando separa a capoeira/capoeiristas de Cristo. Crer em Cristo é livre-arbítrio e não crer também, ambos devem ser respeitados, o que voga é que: Cristo/Deus [variantes denominações] ama e protege o ser humano, os filhos de Deus, independente de ser crente/cristão correto ou incorreto. Até porque você pode ser ateu e ser capoeirista, ser cristão e ser capoeirista. Ser capoeirista independe de sua ceita ou religião. Cristo está muito ocupado para pensar de separar a capoeira dos capoeiristas e os praticantes da capoeira: dele.
Talvez não precisaria abordar sobre isso hoje... Enfim, mas a realidade de ouvir 'sou capoeira', mas sou de Jesus e/ou parei de praticar porque agora sou de Jesus, motivou o feito a essa reflexão... E sabemos que há coisas iluminativas para pensar e fazer do que agredir o universo da capoeira por questões pessoais, não cabe mais, embora ser algo a ser trabalhado daqui para frente e além. Pois o preconceito explícito e implícito em todas as esferas na nossa sociedade rebaixa a nós mesmos. Podemos ser melhor, evoluir a cada dia e não mais gastar energia para inferiorizar a nossa comunidade capoeirana/capoeirista e a troco/troféu de quê? Já não basta a luta dos guardiões do passado que preservaram a capoeira com a própria vida e sangue? Já não basta atualmente precisar proteger a capoeira dos 'profissionais mal intencionados' de educação física querendo a capoeira para si? Já não basta tentarem a toda força e vapor incluir a capoeira como esporte olímpico/competição [essa modalidade pode até crescer, mas não ajuda em nada salvaguardar a verdade e a matriz]?
"Macumba (do quimbundu: ma'kôba) é um instrumento de percussão de origem africana, semelhante ao instrumento reco-reco." - [Wikipédia]
"Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras." - [Revista Super]
Talvez não precisaria abordar sobre isso hoje... Enfim, mas a realidade de ouvir 'sou capoeira', mas sou de Jesus e/ou parei de praticar porque agora sou de Jesus, motivou o feito a essa reflexão... E sabemos que há coisas iluminativas para pensar e fazer do que agredir o universo da capoeira por questões pessoais, não cabe mais, embora ser algo a ser trabalhado daqui para frente e além. Pois o preconceito explícito e implícito em todas as esferas na nossa sociedade rebaixa a nós mesmos. Podemos ser melhor, evoluir a cada dia e não mais gastar energia para inferiorizar a nossa comunidade capoeirana/capoeirista e a troco/troféu de quê? Já não basta a luta dos guardiões do passado que preservaram a capoeira com a própria vida e sangue? Já não basta atualmente precisar proteger a capoeira dos 'profissionais mal intencionados' de educação física querendo a capoeira para si? Já não basta tentarem a toda força e vapor incluir a capoeira como esporte olímpico/competição [essa modalidade pode até crescer, mas não ajuda em nada salvaguardar a verdade e a matriz]?
A população negra no Brasil vive um tempo desafiador. Além da luta pela sobrevivência, a superação do racismo, do atraso social, econômico e político, muitos de nós temos que encarar o desrespeito e a intolerância em relação a suas formas mais diversas de expressar a fé. Sabemos que as religiões de matrizes africanas, como o candomblé e a umbanda, são frequentemente alvo de preconceito e seus frequentadores e adeptos sofrem cotidianamente com agressões e ataques físicos e simbólicos contra seus símbolos e casas institucionais de culto, popularmente conhecidas como casa de santo/axé, roça ou terreiros. - [Walmyr Junior]
A Capoeira Soteropolitana [Regional] x A Capoeira do Recôncavo Baiano [Angola] - Estamos cientes (pelo menos deveríamos saber) de que a capoeira do Recôncavo, por exemplo, preserva muito mais a ancestralidade das matrizes africanas do que a capoeira de Salvador [Regional/Mix de outras lutas/Bimba], daí nasce a fronteira de separar a capoeira da ancestralidade afro, passando a permear no universo mais católico e evangélico, principalmente porque as pessoas da capital terem mais essas religiões como mais importantes e afinidade profunda. Um coisa é certa e concreta: há espaço para respeitar a sua fé e há espaço para respeitar a capoeira, é aqui que mora a ética e o amor [manter o respeito e não a exclusão. Exclusão essa que já sabemos como funciona e onde pode parar...]. Por isso mesmo é interessante o intercâmbio nacional e internacional entre os participantes de outras modalidades da capoeira com os guardiões da capoeira [quem preserva a capoeira mais original possível], afim de solidificar uma conexão entre guardiões da matriz com a nova geração, que já se aproxima de uma capoeira plástica e alterada [Já em propagação intensa - Modificando as canções, os toques, os golpes, a história, etc...]. Vale salientar que tudo é capoeira (Regional e Angola), mas antes da Regional... Quem surgiu foi a Angola [Mãe - DNA Determinante], o que revela a urgência de proteger a capoeira raiz para o bem de todos no quesito memória, história e a conjuntura no passado [origem].
[...] Na festa da Lavagem do Bonfim, o interior da igreja continua vedado ao público. Pouco importa que o alto escalão executivo e legislativo do Estado da Bahia participe dos festejos. Também não importa a presença de renomes da cultura nacional e até mesmo internacional. A alta cúria diocesana não abre as portas do templo, porque é católico. A festa pode ser da Tradição, da Bahia, do Brasil, dos afro-brasileiros. Católica não é, porém. Nesse momento, tem razão Beatriz Dantas: Roma tolera a festa como uma aliança, pois ela sabe que será perdedora, se estabelecer o conflito." - [PÓVOAS, 2007]
"Um exemplo de sincretismo entre candomblé e catolicismo é a Lavagem do Bonfim, que ocorre anualmente em Salvador, na Bahia, no Brasil." - [Wikipédia]
|A capoeira é um legado africano|"Eu não sou estudiosa de capoeira, eu sou estudiosa de legados africanos." - [Marise de Santana]A capoeira como legado africano, ela traz exatamente elementos. Elementos que são importantes para gente pensar, embora a gente não possa perder de vista, que capoeira, ela também assume feições diferenciadas em diversos espaços que elas estão. Então, quando a gente estuda, por exemplo, a capoeira do recôncavo e a gente compara com a capoeira que está lá no sertão, nas caatingas e mais precisamente um lugar que eu estudo um pouco, que é Jequié. Então a gente percebe que existe alguns elementos que são diferentes, mas elementos que trazem justamente a ideia de que esse legado não é uma coisa que a gente pode pensar como algo estático, mas como algo dinâmico. Então como algo dinâmico, ela vai assumindo feições outras. É interessante que lá em Jequié, porque é uma cidade extremamente e eminentemente, digamos assim: evangélica. Então a capoeira lá é tratada como capoeira regional, essa capoeira regional, onde se tira elementos, elementos que são de sacralidade africana para assumir elementos que são menos africanos por conta dessa necessidade que existe de tentar demonizar o que é africano, então todo esse processo de demonização africana que vai fazendo com que haja essa perda desses elementos, mas é muito interessante porque quando os grupos nos convidam para que a gente fale sobre a capoeira, enquanto legado africano. E trazemos alguns elementos para se pensar, por exemplo, o inicio de quando se vai jogar capoeira, há toda uma reverência que se faz ao sagrado e ai nessa reverencia, é claro que existe o sincretismo. A relação dos orixás, inquices, voduns com a relação católica, por exemplo, onde as vezes não se faz um angorossi para iniciar a capoeira, mas se faz na verdade uma reza.Enfim, mas esses elementos, eles são muito importantes para que a gente possa pensar assim: a capoeira é um legado africano. E a capoeira, ela sobreviveu como legado africano. E aí a gente pensa: por que essa capoeira ela esta muitas vezes em alguns espaços pelo menos no recôncavo, em alguns espaços de grupos, que são grupos africanizados, são grupos que estão dentro do terreiro? Justamente para haver essa preservação, que foi o espaço que preservou exatamente esses legados. - [Entrevista Rádio Metrópole 101,3 FM (BA) - Programa Mojubá - (Apresentadora/Jornalista Cristiele França | Entrevistada: Professora e Drª. Marise de Santana (Pós-Doutorado, Unicamp, Brasil) - Tema:. Capoeira x Legados Africanos - Película e Adaptação da Entrevista Sonora na Rádio.]
Pesquisas arqueológicas mostram que os hominídeos tiveram que enfrentar muitas adversidades, como as mudanças climáticas, o deslocamento de continentes, os predadores e a escassez de alimentos. Um exemplo disto ocorreu após o desaparecimento das florestas na África em razão da glaciação, há cerca de 5 milhões de anos. As mudanças no meio ambiente obrigaram esses grupos a buscar alimentos em outros ecossistemas. - [Módulo 5 - Formação de Educação para Patrimônio - Humanos Seres Culturais - 68]
No rito Angola, o repertório rítmico é composto por três polirritmos básicos e algumas variações sobre estes. São eles: cabula, congo e barravento (do qual a variação mais conhecida é a muzenza). Todos são ritmos rápidos, bem "dobrados", repicados e tocados "na mão" (sem varinha). De modo geral, todas as divindades podem ser louvadas com cânticos ao som de qualquer dos três: sejam os orixás, inkices, ou aquelas tidas como originárias dos cultos ameríndios (caboclos índios e boiadeiros). A própria aceitação dos elementos nacionais sobrepostos às influências africanas no candomblé angola é perceptível, principalmente pelas letras das cantigas, cantadas em português e mescladas aos fragmentos das línguas "bantu". No Ketu a tolerância ao português é mais restrita e as casas de Ketu que cultuam caboclos estabelecem uma "mediação" que intercala, na ordem do xirê, o toque dos caboclos. Assim, para que o "xirê Ketu" possa abrigar as toadas de caboclo é preciso que ocorra uma "transição musical", na qual o toque "vira para Caboclo”, não sem antes serem cantadas algumas cantigas de angola como este ingorossi (reza) - [Artigo - Verdadeiro Ingorossi da Nação Angola]
"Ingorossi: reza coletiva, especie de ladainha dos candomblés bantos. Do umbundo ongolosi, reunir-se."- [LOPES, 2014]
"Angorossi: reza também chamada ingorossi cantada nas obrigações do culto Angola." - [PEREIRA, 2015] -
As ladainhas na capoeira em grande parte são mais longas que as louvações, chulas e corridos. Elas podem ter diversas funções, mandar um recado para quem está jogando, uma narrativa histórica, uma denúncia social, um agradecimento que o capoeirista pode ter recebido em algum momento que só ele sabe. As ladainhas são mais que uma simples música, as letras delas sempre transmitem conhecimento. Durante as ladainhas, louvações, chulas e corridos é o momento que o cantador poderá mostrar um pouco de seu conhecimento sobre alguns temas, sobre a capoeira, educação, cultura e religião. - [SILVA, 2015]
"Ladainha ou kyrielle é uma forma poética com origem na poesia trovadoresca. O nome kyrielle provém do grego Kyrie, significando Senhor, muito usado na liturgia cristã, como por exemplo no Kyrie eleison, aproximando-se por vezes de uma litania com as repetições de um mantra." [Wikipedia]
Portanto, não existe a necessidade de inovar a capoeira para ganhar visibilidade na 'sociedade branca' ao incluir novas regras/diretrizes/parâmetros que não fazem parte de sua realidade como existência e contexto histórico. Quem quer proteger a essência da capoeira sabe que é difícil competir com os inúmeros patrocínios tentadores [onde envolvem muitos zeros a direita, lavagem de dinheiro e academias 'espelhadas' e as 'etc' surgindo], em conjunto com pessoas que não trabalham a vaidade ao esbanjar que estão criando uma nova capoeira [a melhor]. Afinal, a melhor nunca será a cópia [xerox], porque a capoeira não é uma arte a ser finalizada, simplesmente porque ela já é completa, muito embora identificados não querer ver ou aceitar. Agora e sempre, apenas importa: o preservar consciente, seja por via das mesclagens sagradas de angorossi [canto angola] ou ladainha [liturgia cristã] na abertura de uma roda de capoeira capitaneada por um mestre experiente/antigo/sábio e/ou um convidado a altura do momento/evento.
Lopes, Nei - Enciclópedia brasilieira da diaspora africana - Selo Negro Edições, 8 de jul. de 2014 - 752p.
Coluna - Juventude de Fé - Walmyr Junior - Jornal do Brasil - 2016/09 (Película Conservada)
Coluna - Juventude de Fé - Walmyr Junior - Jornal do Brasil - 2016/09 (Original removido)
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