- CAPRECIOLOGOS - APRECIOLOGOS DA CAPOEIRA - O Filme Besouro
Texto: Maria A. Teixeira/Ru Aisó - @iecamarabahia @ruaiso
Texto Rascunho e Horizontal 19
24.09.2012
Recomendo a todos os capoeiristas e “apreciólogos/capreciólogos“ com toda humildade e ausência de qualquer vaidade, seja ela qual for e/ou em teor de possível existência percebida, que ‘assistam’ ao Filme Besouro – ano 2009, pois infelizmente muitos apenas ‘viram’, o que me pareceu, em um resultado muito insensível e debilitado, ao citarem: “deixou muito a desejar”. Então para quem assistiu, que reassista e para quem viu, apenas neste caso indico: não reveja, mas assista. Depois, reassista a fim de apreciar verdadeiramente, sem deixar passar os ricos detalhes das pesquisas, traduzidas em um importante projeto baseado na nossa cultura raiz e em uma Bahia de 1924.
O convite, por quê?
Porque, é tão difícil possuirmos um grande acervo de filmes, trabalhados em pesquisas certeiras, relacionando a capoeira e os humanos belos negros, aqui escravizados com apoio da lei tendenciosa (parece livre, mas não é...) daquela época, sem uma ideia mínima e/ou máxima, que justifique a tudo isso. Por este, também delicado motivo, que o fiz.
Outro Foco
O filme não tem como foco fazer documentários mil de diversos mestres como é o comum nas fontes fáceis. A longa metragem, portanto não cravou filmar horas a fio de rodas e documentários com estilo de entrevistas, e sim mostrar, baseando-se em ‘remotar’ uma Bahia dos anos vinte, daquele século XX, repletos de acontecimentos históricos. Motivado por intensas e graciosas pesquisas, cujas não podem ser desconsideradas, jamais.
E se for? É um erro sem tamanho! Pois é preciso a existência de analises como estas, para catalogarmos mais longas, permitindo assim, ter acervos para estudos de interessados no assunto e naquele tempo. Momento este, sabido: os negros, as senzalas, o candomblé e a capoeira não eram e nem viviam separados. Até porque esta era a realidade.
Sentimentos
Com carinho é possível sentir, perceber nas consultas valiosas, até mesmo magnas aulas e aulas a todo momento, principalmente, quando o caminho se deve para o candomblé/orixás – Até mesmo segredos, nem sempre revelados ou escritos, devido a oralidade a ouvidos certos.
Quem não respeita a cultura, a história, a religião/afro, dos nossos antepassados, o candomblé, por exemplo, muito reprimido, ainda mais no século passado. Não está preparado ou não deve penetrar no universo da capoeira mãe e/ou os afluentes dela, porque perde a oportunidade de entender as pesquisas, logo o filme todo.
“Sabido: os negros, as senzalas, o candomblé e a capoeira não eram e nem viviam separados.
Até porque esta era a realidade.” - Ru Aisó
Temos sim de fato, a sorte de aprendermos sobre algumas entidades afros, como: Ossain, Iansã, Oxum e Ogum, etc. Engraçado e irônico, que atualmente muitos falam: sou crente e agora não jogo/pratico/ensino mais capoeira. Porém, jamais ouvirá, torne-se candomblecista para depois ser capoeirista. Não é isto. Mas é preciso respeito com a origem. É necessário lembrar, os cânticos narrativos, os toques, os sentimentos, os sermões característicos nas canções e no abordar dos mestres com seus alunos tem origem real. Portanto, será falido o entendimento, caso não seja, respeitado a cultura da nossa ancestralidade. Não percole o filme, apenas por ver e criticar, mas absorva e aprenda qualquer comentário negativo leve, que seja, estará sim ferindo uma mãe/raiz, a complexa e completa filosofia de resistência. De pai mesmo, apenas são os mestres. E as mestras? Mães afluentes. Todos eternos alunos profundos.
Os Leigos...
Por falta de informação, até mesmo pela cega e velha ignorância, queriam um projeto/filme só de documentários com horas e horas de rodas e/ou algum mestre vaidoso ou não a falar. Já temos muitos documentos/documentários com este perfil de gravações (mestres conhecidos e desconhecidos). O feito nesta longa, não era para isto, o que não deve ser desprezado, também quando ocorrer, porque é mais um acervo para nós. Afinal há espaço para todos e para as novas ideias, também, como foi o Besouro/Filme. O evento deu vida, mostrou que os camarás têm sentimentos (tristes ou alegres), seja por via de alegria, dor, lamentos, decepções, pensamentos, olhares, ódio e amor com uso de personagens representativas e muito bem selecionadas. Os atores as personagens fictícias (Dinorá, Chico, Quero Quero, Zumira, Capitão, Noca, etc.), mas Besouro e Mestre Alípio mais que um fato, muito bem tocado.
Nas rodas do dia a dia isto não é percebido, apenas o show dela e não conta, o que é um capoeira, suas lutas e seus sentimentos. Os erros e acertos nas rodas: os golpes/toques/cantos. Nesta película conseguimos relembrar, que um capoeirista chora, rir, erra, acerta, aprende e ensina, na roda e na vida a fora. Sobretudo o que tem no coração, porque cada vida é uma conquista, uma ideia, um sentimento e uma história – E capoeira é isto, uma diversidade com origem e sem fim.
Enfim, tão didático e tão plural, educativo e emocionante nos encontramos nesta galeria de aula audiovisual. Tudo em um só lugar, por isto vale a pena recordar do convite: assista se desejar aprender e a ensinar com mais confiança. Vale lembrar, também, que capoeira começou nos engenhos, nos momentos de estivas entre alegrias e tristezas na Bahia aos pés nus de lindos homens e lindas mulheres, ambos interessados no futuro melhor. Camuflando lutas em dança e o nosso imaterial patrimônio cultural brasileiro, onde habitam pessoas e não personagens. Vale a pena o observatório de uma hora e meia de aprendizado.
“O herói nasce quando o inimigo vacila. Quando ele comete o maior erro de achar, que pode acabar com tudo, mas é nessa hora que ele acaba de fazer tudo começar.” – Mestre Alípio
“O capoeira bom mesmo caminha na sobra para não ser notado.” – Mestre Alípio
“Sempre que o sol estiver de um lado. Vai ter sombra do outro.” – Mestre Alípio
“A morte não existe. Morte é viver debaixo da bota dos outros.” – Mestre Alípio/Sapo
“Eu não posso porque sou menino. Eu não posso porque sou pobre. Eu não posso porque sou preto.” – Besouro/Cascudo/Manoel - [Manoel Henrique Pereira (1895/ou 1900 — 1924), mais conhecido como Besouro Mangangá]
“Pobre quem sabe. Amanhã você pode ficar rico. Agora, preto é pra toda vida.” - Mestre Alípio/Sapo
“É só dar a carniça certa que urubu abre o bico.” – Capanga Noca/Personagem
“É só misturar cachaça com frango preto, negocio mesmo vai dar em macumba” – Capanga Noca/Personagem
O Filme Besouro foi inspirado no Livro Feijoada no Paraíso - Marco Carvalho
"Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!"
(Hino Nacional Brasileiro)
És mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!"
(Hino Nacional Brasileiro)
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